Sim, eu havia chegado a um dos destinos mais desejados por mim: o Correio do Fim do Mundo.
Lancei o olhar para o fundo do ambiente, procurando ansiosa pelo carteiro do fim do mundo e lá estava ele, atrás de um minusculo balcão: Carlos Delorenzo e a batida ritmada da carimbação que nós, empregados dos Correios, conhecemos tão bem: plunct plact, plunct plact.
Ao chegar ao balcão, coração acelerado. Sim, eu estava diante do carteiro do fim do mundo. Arriscando meu melhor espanhol, contei a ele que também trabalhava nos Correios no Brasil enquanto ele ajeitava a página do passaporte para carimbar. Ele ergueu os olhos, me fitou silencioso e continuo o trabalho, colando com carinho uma estampa adesiva que carrega sua imagem e o carimbo que preenche o restante da página. Ao finalizar, virou-se e me presenteou com um mimo e um sorriso, carinho típico de companheiros de profissão que se reconhecem.
Pode parecer besteira para você, caro leitor, mas para quem tem 17 dos seus 35 anos de vida dedicados ao serviço postal em terras brasileiras, conhecer Correios por aí é quase uma fascinação. Outros empregados dos Correios me entenderão, com certeza.
Caminhei rumo a entrada da pequenina e rústica agência postal já bastante emocionada. Dentre os destinos que paquerava na América do Sul, Ushuaia sempre teve um lugar especial no meu coração em grande parte por causa do Correio do Fim do Mundo. E lá estava eu, a poucos metros de entrar na unidade com o último serviço postal regular do mundo (mais pro Sul só tem a Antártida!!!).
As paredes todas cobertas por fotos, postais, souvenir e adesivos de viajantes do mundo todo que por ali passaram, conferiam ao pequeno ambiente um colorido especial, enquanto alguns aquecedores lutavam para manter o ambiente em uma temperatura agradável enquanto o vento lá fora era cortante mesmo no verão. Que lugar acolhedor!

Aí veio mesmo a confirmação de que havia passado para outra dimensão: com seu bigode e suas roupas características, emoldurado por fotos de Che Guevara e Eva Perón, Delorenzo simplesmente parecia saído de um filme de época, casando perfeitamente o personagem e o cenário. E se esse espaço-tempo tivesse uma trilha sonora, com certeza seria o "carimbador maluco" de Raul Seixas.
Diga-se de passagem, é preciso mergulhar a fundo na história de Carlos, que está a frente dessa unidade postal há mais de 20 anos. Anarquista assumido, ele que já foi maestro em Buenos Aires decidiu abandonar a vida na capital argentina para encampar a criação do correio do fim do mundo, que outrora ficava localizado no meio do canal Beagle e era utilizado por navegantes e aventureiros para enviar correspondências. Com o avanço da tecnologia, a prestação do serviço perdeu força. A unidade postal migrou então para Isla Grande, o que favoreceu o acesso e acabou convertendo o correio em um dos pontos turísticos mais visitados em Ushuaia.
Na pequena fila, eu aguardava ansiosa a minha vez de carimbar o passaporte com a famosa estampa, cujo valor simbólico é de 3 dólares.

Confesso que saí emocionada e chorei (sou meio manteiga mesmo, me julguem rs). Ficou curioso para conhecer a estampa do passaporte? Clique aqui, tem post especial sobre os carimbos encontrados em Ushuaia.
Caminhei ainda por um tempo na enseada curtindo a paisagem antes de seguir para a próxima parada: a lendária placa do final da Rota 3. Vejo você na próxima parada: a baía Lapataia.