Quem me conhece bem sabe que amo viajar (quem não??? rsrs) e a pandemia do novo corona vírus afetou não apenas os nossos deslocamentos, mas algo que me impactou muito, particularmente: a capacidade de sonhar.
Por que digo isso?
Como o próprio nome desse blog diz, viajar de vez em quando é uma realidade para mim. Sou trabalhadora de carteira assinada (ainda que me aventure no empreendedorismo), bato cartão e como todo bom trabalhador, só faço uma viagem grande (10 dias) por ano e outras pequenas quando os feriados são prolongados e assim o permitem.
Mas a falta de tempo ou de dinheiro não nos impede de sonhar. A gente planeja, parcela um voo aqui, um hotel lá e vamos levando. Por mais dificuldades que encontrássemos, havia aquela certeza: no feriado do dia tal, vou para tal lugar.
Com o corona vírus isso entrou em suspenso. Não havia mais essa certeza. Não havia mais o quando. Não havia mais o plano.
Bem no comecinho de junho (antes de eu ser contaminada...sim, eu fui contaminada ainda que saísse da minha casa só par trabalhar, mas isso é história para um outro post) cheguei a fazer uma live com um grande amigo do Chile que trabalha com turismo, sobre as perspectivas de retomada. Mal sabíamos que a situação continuaria se estendendo por meses ainda e, diga-se de passagem, San Pedro de Atacama não retomou as atividades turísticas até agora, nem mesmo flexibilizações.
Em meados de julho, passando aleatoriamente pelas postagens do Instagram vi um post do Daniel Rosalin Turismo de Jaú - minha cidade natal - sobre uma tal uma viagem para cicloturismo, que aconteceria em agosto e que se apresentava como uma alternativa diferenciada.
Confesso que não pensei duas vezes e mandei uma mensagem, dizendo que queria saber mais sobre. Afinal, o que seria o cicloturismo?
Daniel - com o qual eu já havia viajado alguns anos atrás para Porto Seguro - prontamente me encaminhou as informações solicitadas e eu achei a proposta simplesmente sensacional.
O destino: Campos do Jordão - uma cidade aqui de SP conhecida por ser a Suíça brasileira.
A proposta: cada família viajaria com seu carro - sim, seguiríamos em comboio até Campos - como um grande grupo de amigos que se reúnem para passar um final de semana juntos.
O roteiro: realizar um passeio de bike na trilha da casa redonda. Ar livre, cada pessoa na sua bike, distanciamento. Simplesmente perfeito: turistar para pedalar!
Os únicos pontos que me causaram alguma insegurança foram: seria seguro fazer check-in, tomar café da manhã no hotel? Seria seguro me alimentar em algum restaurante? Eu aguentaria fazer o passeio tendo contraído Covid há 60 dias e estando com a capacidade respiratória tão comprometida ainda?
As dúvidas relacionadas a viagem rapidamente foram respondidas pelo Daniel, que me tranquilizou, informando que o hotel estava operando com a capacidade reduzida para não haver aglomerações; as filas de check-in e check-out organizadas com distanciamento e itens de higienização e o café da manhã estaria com o buffet self-service suspenso, tendo cada família que solicitar o que gostaria que compusesse seu café no ato do check-in, recebendo desta forma seu café devidamente embalado e protegido no dia seguinte.
Quanto a minha capacidade física para realizar o passeio, o Daniel também me tranquilizou, informando que 2 guias nos acompanhariam e que eu poderia fazer o passeio no meu ritmo.
Com todas as informações em mãos e sentindo que havia bastante segurança nos protocolos informados, fiz minha reserva!
Alguns dias antes da viagem repeti o teste de corona vírus para constatar que estava tudo ok. E então chegou o dia tão esperado: 15/08/2020! Nem acreditava que poderia finalmente passear!
Duas caminhonetes levaram as mais de 20 bikes das famílias que viajavam em seus respectivos carros.Chegando em Campos do Jordão, controle rigoroso na entrada da cidade com aferição de temperatura, cadastro dos nomes dos turistas pela Secretaria de Saúde, orientações sobre como se proteger.
No hotel, tudo como o Daniel havia nos descrito: filas organizadas, sem qualquer aglomeração. Fomos muito bem recebidos pela equipe do hotel Dan Inn Premium e nos sentimos bastante protegidos.
Como já estava próximo das 11 da manhã, nos dirigimos de bike para o centro da cidade, rumo ao restaurante que o Daniel havia reservado: o Pátio Paris. Ocupamos o deck ao ar livre, apenas pessoas da mesma família podendo dividir a mesma mesa e com distanciamento das mesas entre si. Opções de cardápio apenas a la carte para garantir a segurança.
Logo após o almoço nos encontramos com os guias que nos conduziriam pela trilha em uma praça em frente ao restaurante. Orientações dadas, partimos para nosso passeio contando com um carro de apoio - nosso querido Homem aranha de motorista - que nos supriria com água fresca para nossas garrafinhas, além de frutas para repor as energias e alguma assistência técnica, se necessário.A paisagem era de tirar o fôlego! Pedalando pelos mares de morros, podemos contemplar Campos do Jordão por uma perspectiva diferente do turista convencional, com uma sensação de liberdade quase que surreal depois de tantos meses trancados em nossas casas. Todos estavam muito felizes, era possível ver pelas expressões, pelas risadas.
E você deve estar se perguntando como foi a trilha para mim, pós infecção por corona vírus. Bom, confesso que foi muito, muito, muito desafiadora. Cheguei a pensar em desistir várias vezes. O ar parecia custar a entrar pelo meu corpo e o fato de estar sem fazer qualquer atividade física desde março - quando voltei de Ushuaia e a pandemia explodiu - cobrou seu preço: as pernas queimavam e o cansaço era de uma força inacreditável. Chorei algumas vezes, porque não queria desistir do pedal. Empurrei a bicicleta grandes trechos porque não conseguia pedalar - faltava ar e pernas. Mas a superação reside não apenas na nossa capacidade física mas no mental, que veio em grande parte da força do grupo, sempre me incentivando a não desistir. Havia sempre algum ciclista que ficava para trás dando um apoio moral, dizendo que eu ia conseguir.E assim concluí os 20 quilômetros propostos com muita determinação e, principalmente, muita ajuda dos colegas de viagem.
Retornando ao hotel, confesso que não tive pique para ir a algum restaurante jantar. Alguns colegas foram e relataram que os protocolos de segurança estavam sendo cumpridos. Preferi pedir um prato por aplicativo e comer no conforto do meu quarto, visto que todos os meu músculos doíam absurdamente rsrsrsrs.No dia seguinte, devidamente restaurada após uma boa noite de sono, seguimos em comboio por alguns pontos turísticos da cidade, como o Pico do Itapeva por exemplo.
E assim finalizamos nossa primeira viagem em tempos de pandemia, onde tivemos que nos reinventar também enquanto turistas para mantermos todos do grupo em segurança.
Obrigada equipe Daniel Rosalin pela acolhida! Estamos esperando o próximo convite para ciclo turismo!